Na América Latina Hispânica a valsa oitocentista é estudada no contexto da “música de salão”. Muitas das partituras de valsas destinadas à performance nesses locais domésticos foram publicadas em periódicos, como aconteceu em Cuba e também no Rio de Janeiro imperial, como descrito no livro. A diferença entre o que aconteceu nos outros países latino-americanos é que enquanto na Venezuela, Colômbia e Peru, a valsa foi completamente nacionalizada na esteira dos movimentos de independência nas primeiras décadas do século XIX, como comenta o musicólogo Juan Francisco Sans, no Brasil a valsa só foi “abrasileirada” mais tarde, quando absorvida pelos músicos de rua em torno dos 1870. Por isso o repertório de valsas discutido no livro trata desde a valsa-dança dos salões imperiais às valsas para piano distribuídas nos jornais como “mimo”, até as modinhas em compasso de valsa dos chorões do início do século XX em gravações pioneiras. Prefácio de Maria Alice Volpe.

En Hispanoamérica, el vals del siglo XIX se estudia en el contexto de la “música de salón”. Muchas de las partituras de valses destinadas a ser interpretadas en estos escenarios domésticos fueron publicadas en periódicos, como sucedió en Cuba y también en el Río de Janeiro imperial, como se describe en el libro. La diferencia con lo ocurrido en otros países latinoamericanos es que mientras en Venezuela, Colombia y Perú el vals fue totalmente nacionalizado poco después de los movimientos independentistas en las primeras décadas del siglo XIX, como comenta el musicólogo Juan Francisco Sans, en Brasil el vals sólo fue “brasilizado” más tarde, cuando fue retomado por los músicos callejeros alrededor de la década de 1870. Es por eso que el repertorio de valses discutido en el libro va desde el vals de baile de los salones imperiales hasta los valses para piano distribuidos en los periódicos como “mimo” [regalo], hasta las modinhas de principios del siglo XX en vals de los chorões en grabaciones pioneras. Prefacio de Maria Alice Volpe.

Esse estudo apresenta uma análise crítica da Revista Musical e de Bellas Artes (1879-1880), o mais antigo periódico musical especializado brasileiro, de que se dispõe de uma coleção completa e localizada. Publicada no Rio de Janeiro, capital da corte, no contexto do Segundo Reinado, teve como editores Arthur Napoleão, Narciso e Leopoldo Miguéz, figuras de destaque naquele ambiente cultural. Os pressupostos da História Cultural e da Musicologia Crítica oferecem a base teórica dessa análise, auxiliados pelos estudos de História da Imprensa do Brasil e da História da Cultura Escrita. Além dos próprios textos publicados no periódico analisado foram muito importantes como fontes primárias os textos publicados em outros periódicos de época e a bibliografia sobre os seus editores e panorama musical brasileiro no século XIX. O estudo está subdivido em três capítulos. O primeiro capítulo dá destaque aos editores, músicos de destaque que se impõem o desafio da publicação de um periódico. O segundo capítulo revela a inserção e a recepção do periódico na rede comunicacional de seu entorno mais imediato e o alcance mais longínquo dessa performance. O terceiro capítulo preocupa-se com as representações feitas pelo periódico das práticas musicais. Ao eleger dois espaços de práticas musicais e um periódico de imprensa de ampla circulação para realizar uma abordagem comparativa foi possível perceber várias nuances que auxiliam a identificar características mais peculiares ao proceder a crítica musical. Ao final do estudo apresenta-se um indexamento geral do conteúdo da Revista Musical e de Bellas Artes. Esse trabalho pretende contribuir para o entendimento sobre o periodismo musical no Brasil oitocentista e lançar bases para futuras pesquisas que se dediquem a aprofundar questões ligadas à crítica musical, à performance comunicacional em torno do tema música e às práticas musicais e suas representações pela imprensa. 

This study presents a critical analysis of Revista Musical e de Bellas Artes (1879-1880), the oldest specialized Brazilian musical periodical, which has a complete and localized collection. Published in Rio de Janeiro, capital of the court, in the context of the Second Empire, it had as editors Arthur Napoleão, Narciso and Leopoldo Miguéz, prominent figures in that cultural environment. The assumptions of Cultural History and Critical Musicology offers the theoretical basis of this analysis, aided by the studies of the History of the Press in Brazil and the History of Written Culture. In addition to the texts published in the analyzed periodical, the texts published in other periodicals and the bibliography on their editors and Brazilian musical panorama in the 19th century were very important as primary sources. The study is divided into three chapters. The first chapter highlights the editors, outstanding musicians who face the challenge of publishing a journal. The second chapter reveals the insertion and reception of the journal in the communication network of its most immediate surroundings and the farthest reach of this performance. The third chapter is concerned with the representations made by the journal of musical practices. By choosing two spaces for musical practices and a widely circulated press periodical to carry out a comparative approach, it was possible to perceive several nuances that help to identify the most peculiar characteristics when proceeding to a musical criticism. At the end of the study, a general indexing of the content of Revista Musical and de Bellas Artes is presented. This work intends to contribute to the understanding of musical periodism in 19th century Brazil and to lay the foundations for researches that are dedicated to deepen issues related to musical criticism, to the communicational performance around the theme of music and to musical practices and their representations by the press.